A revolta contra Edir Macedo na África 663s73
VEJA entrevistou Dinis Bundo, obreiro da entidade há dezoito anos e porta-voz do levante 6k1x5q

Internamente, Edir Macedo chamou de “golpe”, mas pode se dizer também que foi o maior revés da história da Igreja Universal em seu projeto de expansão mundial. Religiosos que trabalhavam para a entidade em Angola organizaram uma revolta contra Honorilton Gonçalves, diretor das igrejas de Macedo na África. Ao todo, 320 pastores locais tomaram a istração de 110 igrejas no país (50% do total). Evasão de divisas, racismo e a obrigação de fazer vasectomia são parte da relação de denúncias feitas pelos insurgentes. VEJA entrevistou Dinis Bundo, obreiro da entidade há dezoito anos e porta-voz do levante.
Por que a decisão de romper com a direção da Universal? São muitas razões, que vão desde recebermos metade do salário pago aos religiosos nascidos no Brasil até não ter o às casas dos condomínios da igreja. Mas há coisas mais graves. O Honorilton Gonçalves exige a castração de pastores, a vasectomia como forma de todos viverem exclusivamente para a Universal. Para ele, tem de aguentar tudo calado.
Como assim? O Honorilton é um psicopata, não aceita diálogo. Ele tentou aqui em Angola fazer o mesmo script de Moçambique: escorraçar pastores que mostraram posição contrária a ele. Ele mandou arrombar a casa do bispo Bezerra Valente Luiz, que era o número 2 da Universal em Angola e agora lidera o movimento. Desde que iniciamos as reivindicações no ano ado, o Honorilton ou a vender casas, condomínios e terrenos da Universal. Por que acabar com o patrimônio da igreja? Há também o problema da evasão de divisas. Só no ano ado, foram enviados ao Brasil 100 milhões de dólares sem declaração alguma ou registro.
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A Universal de Angola arrecada tudo isso? Arrecada mais. Tem pastores que compram casas, condomínios, carros… Ou seja, essa quantia poderia ser maior e nem tudo vai para o Brasil. Hoje, estamos com o controle de metade das 220 igrejas de Angola. No país, há meio milhão de fiéis. Mais pastores devem vir para o nosso lado.
O Edir Macedo sabe de tudo? Claro. O Edir disse ao Honorilton para não ceder à pressão e que o povo angolano é corrupto. Eles chegam aqui, são racistas e desfazem da gente — e ainda temos de escutar esse tipo de coisa. As intenções obscuras vão muito além da realidade da fé.
Publicado em VEJA de 1 de julho de 2020, edição nº 2693