
Desde a última quinta-feira, 22 de maio, uma criatura errática e adorável domina as bilheterias do Brasil com fôlego, sem deixar barato para as peripécias de Tom Cruise. Lilo & Stitch, regravação em live-action da animação de mesmo nome, se tornou a opção imediata para famílias em busca de entretenimento nas salas. Uma semana depois, outro longa surge no circuito com mais um animal não identificado capaz de arrancar suspiros e sangue. Enquanto as crianças podem se divertir com a trama da Disney, pré-adolescentes e adolescentes com tendências alternativas ganham outra pelúcia dos sonhos graças a A Lenda de Ochi, já em cartaz.
Distribuído nos Estados Unidos pela A24, empresa cuja são tramas muito específicas e inventivas, o longa chega ao Brasil nas mãos da Paris Filmes. Na história, uma menina adolescente habita uma realidade anacrônica na qual humanos e seres mágicos coexistem. Os temidos Ochis vivem na floresta, têm um grito estridente e são vistos como ameaça para a vida humana e para os animais que fazendeiros tentam criar pelas redondezas. Por conta disso, o pai de Yuri (Helena Zengel) é tutor de um exército improvisado composto por meninos abaixo da maioridade. Excluída pelo clube do bolinha, a garota um dia vagueia pelo mato e encontra um Ochi bebê preso em uma armadilha. Um vínculo é imediatamente estabelecido e ela decide fugir de casa para devolvê-lo à família mágica. No caminho, tenta também encontrar a própria mãe que a abandonou anos antes.
Diferente de Lilo & Stitch, Ochi triunfa por uma decisão chave: ao invés de recorrer somente à computação gráfica, o diretor Isaiah Saxon construiu fantoches e animatrônicos com ajuda de seu departamento de arte e de sete operadores. O efeito emula o encanto de clássicos oitentistas como Gremlins (1984) ou Labirinto – A Magia do Tempo (1986) e O Cristal Encantado (1982), ambos dirigidos por Jim Henson — o pai dos Muppets e autoridade máxima no campo de bonecos falantes. Além disso, permite que as expressões do pequeno ser sejam melhor delineadas e mais palpáveis e atribui ao filme uma tessitura fantástica artificial que ajuda o espectador a suspender sua descrença e a embarcar na aventura.

Uma vez ambientados, tanto os mais jovens quanto pais e adultos desacompanhados encontram uma história tão charmosa quanto familiar — ainda que, às vezes, derivativa. Como em E.T.: O Extraterrestre (1982), o laço entre menina e criatura permite que uma jovem deslocada e por momentos de diversão caótica e que não apenas se encontre, como também denuncie as incongruências dos mais velhos. No elenco adulto, brilham os pais vividos pelo sempre excêntrico Willem Dafoe e pela dama do teatro inglês Emily Watson. Adolescentes também gostarão de encontrar em tela Finn Wolfhard, protagonista da série Stranger Things, que se mantém fiel a histórias de amadurecimento em meio a circunstâncias extraordinárias. A depender do ator de 22 anos, as crianças que preferem o que outras acham “esquisito” jamais ficarão desamparadas.
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