Mapa de ponta-cabeça exibido por Dilma pode criar saia-justa com a China 251h35
Segundo especialista, projeção fere critérios chineses para representação de Taiwan e mostra ilha como integrante dos Brics 604v1x

Ao apresentar a nova versão do mapa-múndi com Norte e Sul “invertidos” em evento oficial na China, a ex-presidente Dilma Rousseff e o presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Marcio Pochmann, podem ter violado leis chinesas sobre a representação territorial de Taiwan.
O mapa, que posiciona o Brasil no centro do mundo, foi exibido por Pochmann e Dilma — atual presidente do banco dos Brics — ao primeiro-ministro chinês, Li Qiang, durante encontro de autoridades na última semana. Na projeção, a China aparece “desmembrada” entre dois hemisférios, com destaque para a separação entre a parte continental do país e o Estreito de Taiwan.
Segundo o advogado e geógrafo Luiz Ugeda, fundador do portal Geocracia e consultor do escritório SPLaw Advogados, a legislação chinesa proíbe expressamente representações cartográficas que distorçam o território chinês, representem fronteiras incorretamente ou infrinjam a soberania da China. “Enquanto Pequim tenta unir o Estreito de Taiwan, uma região extremamente sensível para o governo chinês, o IBGE resolve o separar na casa do anfitrião”, explica Ugeda.
Além da separação das fronteiras, as cores utilizadas na legenda representam Taiwan como integrante dos Brics, o que não corresponde à realidade — o Brasil sequer possui embaixada no país, e sim um escritório de negócios, já que a China continental reivindica todo o Estreito de Taiwan como parte de seu território e não negocia com aliados que reconheçam a ilha como país independente.

Sindicato do IBGE repudia mapa-múndi invertido 6m1f2s
De acordo com Ugeda, países que disputam territórios — a exemplo da Rússia, com a Crimeia, e da Índia, com a Caxemira — costumam ter leis estritas sobre a representação cartográfica, e a China já chegou a punir e exigir retratação de empresas privadas, como Gap, Marriott e Versace, por usar mapas em desacordo com a legislação. “Faltou um assessoramento diplomático ao IBGE, que favoreceu no mapa uma visão sociológica e ideológica sobre um serviço oficial de Estado”, diz o geógrafo.
O mapa-múndi invertido foi criticado, inclusive, por um sindicato de servidores do próprio IBGE, que apontam na iniciativa “um gesto sem respaldo técnico em convenções cartográficas internacionais”. Em nota de repúdio publicada em 8 de maio, quando a nova projeção foi divulgada pelo instituto, a coordenação do Núcleo Sindical Chile (ASSIBGE/SN) afirma que o mapa “em vez de informar, distorce e, em vez de representar a realidade com rigor, cria uma encenação simbólica que compromete a credibilidade construída pelo IBGE”.