Mariana Nunes: ‘Sou mãe solo, grávida de gêmeos’ 1h3h38
A atriz revela os desafios de encarar uma produção independente em dose dupla 3b3g3b

Desde pequena, eu cultivava a vontade de ser mãe e tinha certeza de que esse desejo se realizaria em algum momento da vida. Guardo lembranças de quando, ainda menina, queria uma família grande, com quatro filhos. Imaginava que eles viriam ao mundo da forma mais tradicional possível, da relação com um marido, depois de casar. Em todos os namoros sérios que tive, levantava a possibilidade de engravidar, mas, por circunstâncias variadas, não aconteceu. O tempo foi então ando e, quando me dei conta, estava chegando perto dos 40 anos. Naquele momento, um bebê parecia realidade cada vez mais distante , o que me acendeu um senso de urgência. É verdade que nós, mulheres, estamos a cada dia mais autônomas, donas da profissão, da vida financeira e da própria história. Mas o relógio biológico segue implacável, não espera.
Reconheço que, por muitos anos, fui ando outras necessidades na frente da maternidade. Gosto muito da carreira que construí como artista e ela me absorveu. Um lado meu confiava que o tempo se encarregaria de me fazer mãe, depois que tivesse uma família estruturada, tudo numa sequência natural. Por volta dos 42, porém, veio o inesperado: minha menstruação começou a falhar e, depois de uma série de exames, minha médica diagnosticou uma menopausa precoce. Reparei então que os profissionais ainda estão pouco preparados para lidar com a complexidade da saúde feminina. Cheguei a ser encaminhada ao psiquiatra por causa de sintomas como uma tristeza profunda, comum da menopausa. Até esse instante, também, ninguém havia aventado o cenário de congelamento de óvulos.
A menopausa nunca me soou algo positivo, sobretudo quando acontece antes do tempo. A gente acaba associando à falta de vitalidade, à infertilidade. Foi um diagnóstico muito duro de receber. Me senti traída pela vida, como se tivesse levado uma rasteira. Como nenhuma das pessoas à minha volta estava ando por aquilo, me sentia incompreendida. Fora os comentários que alguns disparavam: “Já? Mas tão nova?”. Até então, pensava que teria filhos com meu material genético, mas entendi ali que teria de recorrer a uma ovodoação mais cedo ou mais tarde e pus na cabeça que o faria até os 50 anos. De repente, em um exame de rotina, o médico veio com a notícia de que talvez ainda houvesse algum óvulo disponível e resolvi ir atrás do congelamento. Foram duas tentativas, tomando um monte de remédios, mas não funcionou. Decidi aí entrar na fila de clínicas de fertilização, até achar uma doadora de óvulos com características próximas às minhas. Quando consegui, implantei dois embriões juntos, e dali em diante foi tudo rápido e emocionante.
Acabei ficando grávida de gêmeos, o que, aliás, queria muito. Hoje, a sensação é de que eles sempre estiveram aqui comigo. Só precisavam de um jeito para vir ao mundo. Estou com seis meses de gravidez e já ei por muitas transformações, físicas e psicológicas. Elas são tão radicais e íntimas que quem está de fora, inclusive um marido, não consegue alcançar. No primeiro trimestre, me vi solitária e vivi uma espécie de luto pela pessoa que eu era antes de ter filhos. Tudo muda, eu sei. A maternidade solo é ainda mais desafiadora. Depois que revelei a gravidez, vi comentários infelizes nas redes sobre minha opção: as pessoas esperam o caminho mais “normal”. Escolhi não dar ouvidos às críticas. Interessante perceber que muito do que era importante antes, situações que me desgastavam, não fazem mais nem cosquinha. A perspectiva, de repente, é outra. Cada dia é um dia, e você percebe o quão diferente está. Acho que vai ser sempre assim daqui para a frente.
Mariana Nunes em depoimento a Duda Monteiro de Barros
Publicado em VEJA de 9 de maio de 2025, edição nº 2943