Carta ao leitor: Saber fazer parcerias é um dos trunfos do Brasil
As reavaliações estratégicas para lidar com o conflito irradiado pelos Estados Unidos, alvejando a China e todo o mundo, o Brasil pode ter vantagens

Ao contrário do que pode sugerir a composição de fotos e o título acima, não vai aqui nenhum sopro de que o Brasil deva recorrer a aviões de guerra para enfrentar as potências comandadas pelos dois homens destacados — Donald Trump e Xi Jinping. De fato, entre Estados Unidos e China ocorre um conflito deflagrado pelo primeiro no campo comercial, que arrasta o restante do mundo. O Brasil não escapa e, como mostra a reportagem “O jogo mudou”, na página 18, o país está em processo de revisão de suas condições para lidar com a nova ordem mundial, ponderando possibilidades de perdas e ganhos, negociações a fazer, novos rumos a traçar.
O caça da foto é o modelo F-39E, versão made in Brazil do congênere sueco Gripen. A reportagem “O Brasil entra na era supersônica”, na página 50, relata a trajetória de dezessete anos de desenvolvimento da aeronave, que agora está pronta para entrar em operação. Testado, aprovado, inclusive superando rivais de centros poderosos como os Estados Unidos, o caça está incorporado à Força Aérea Brasileira e em vias de ser adotado por outros países. Sua produção está distribuída em fábricas no interior paulista.
A citação “nossas armas na guerra” não se refere à capacidade de o avião voar a até 2 450 km/h (apto a fazer a ponte aérea Rio-São Paulo em doze minutos) e aos mísseis que pode portar. Trata-se de uma metáfora alusiva ao que está por trás do Gripen e sua história. Parceria entre Brasil e Suécia, após licitação internacional. Acordo de transferência de tecnologia a uma empresa brasileira habilitada, com uma base de engenharia robusta. Cadeia de produção e logística globais. Capital na bolsa e abertura para competir no mundo. Obviamente que a companhia em questão é a Embraer, que ou a ter intercâmbio com a sueca Saab, criadora do Gripen.
Esse modelo de negócio está no DNA da Embraer, como já mostramos em VEJA NEGÓCIOS 2, de maio de 2024, quando ela protagonizou a capa. A empresa volta a servir de exemplo, por coincidência, num momento em que o Brasil precisa conferir suas forças e fazer as melhores escolhas. Que seja inspiradora.
Publicado em VEJA, abril de 2025, edição VEJA Negócios nº 13