Efeito Haddad e Trump desmonta euforia na bolsa e faz dólar disparar
Após bater recorde, Ibovespa despenca com medidas fiscais no Brasil e nos EUA; dólar sobe e volta ao patamar de R$ 5,70 nesta sexta-feira

O Ibovespa, que nesta semana flertava com a euforia de ter alcançado o inédito patamar de 140 mil pontos, cai nesta sexta-feira para a casa dos 135 mil pontos. A derrocada é impulsionada por uma combinação de fatores domésticos e externos, sendo o principal deles as medidas fiscais anunciadas pelo governo federal.
O mercado também segue pressionado pelo cenário externo. O presidente americano, Donald Trump, anunciou que pretende impor tarifas de 50% sobre produtos europeus a partir de 1º de junho — um movimento que acirra os temores da guerra comercial e afeta diretamente as bolsas americanas e europeias. A aversão global ao risco se soma ao desconforto doméstico, criando um ambiente particularmente tóxico para os ativos brasileiros. Por lá, o risco fiscal também segue em alerta com a aprovação, na Câmara dos Deputados, de um pacote de cortes de impostos proposto por Trump. O projeto agora segue para análise no Senado.
O epicentro da turbulência veio do anúncio feito na véspera pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Na tentativa de garantir o cumprimento da meta fiscal, o governo bloqueou R$ 31,3 bilhões do orçamento — movimento bem recebido pelos agentes econômicos. Mas o gesto veio embrulhado com um aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A medida, com potencial arrecadatório de R$ 20,5 bilhões em 2025 e R$ 41 bilhões em 2026, foi interpretada como mais um “puxadinho” fiscal — um expediente paliativo que não resolve o descomo estrutural entre receitas e despesas. Apesar do governo ter recuado parcialmente, voltando a isentar o imposto sobre fundos brasileiros no exterior, a onda de pessimismo não foi contida. A aversão ao risco fez o dólar subir. A moeda chegou a bater os R$ 5,74, mas se acomodava e era negociada a R$ 5,68 ao meio dia.
A preocupação fiscal se justifica em um momento em que o governo enfrenta uma de suas maiores crises – a fraude do INSS, que já levou 1,8 milhão de pessoas a pedirem reembolso, o que deve desfalcar ainda mais as contas públicas, e em meio a uma série de programas e benefícios socias que estão sendo anunciados, fora os que estão sendo prometidos pelo presidente, como o crédito para reforma de casas. Nesta semana, o governo anunciou uma tarifa social de energia elétrica, oferecendo descontos e isenções na conta. Embora socialmente bem-vinda, a iniciativa pode elevar o custo fiscal da União com subsídios, em um momento em que o governo já enfrenta dificuldade para fechar as contas.
Analistas alertam que a soma desses movimentos – aumento de impostos, expansão de gastos e falta de clareza sobre o plano de consolidação fiscal – pode colocar em xeque a credibilidade do arcabouço fiscal. Isso porque a mensagem que o governo envia é de que, diante de qualquer nova despesa, o caminho mais fácil será a tributação adicional, e não o corte de gastos.