Mercados respiram com trégua EUA-China, mas dólar dá sinalização oposta
Bolsas globais operam em terreno positivo, mas moeda sinaliza desafios para o Fed

Após meses de tensões e discursos inflamados, um raro sinal de distensão entre Washington e Pequim trouxe alívio aos mercados globais nesta segunda-feira. Após dois dias de conversas, os Estados Unidos e China anunciaram um acordo que prevê a redução temporária das tarifas impostas em abril.
Segundo o comunicado conjunto, os EUA reduzirão as tarifas sobre produtos chineses de 145% para 30%, enquanto a China cortará suas tarifas sobre bens americanos de 125% para 10%. As novas alíquotas valerão por 90 dias e serão reavaliadas ao fim do período. O gesto representa não apenas uma trégua econômica, mas também um sinal diplomático importante em meio à crescente rivalidade geopolítica entre as duas potências.
Os mercado globais operam com otimismo: o Ibovespa acompanha o exterior e apresenta leve alta, de 0,2%, após subir mais de 1% ao longo da manhã. As moedas emergentes, no entanto, ficam pressionadas, como mostra a cotação do real nesta segunda-feira: O dólar subia e era negociado a R$ 5,69, perto das 11h30.
O acordo entre as potências reacende as expectativas de crescimento na economia norte-americana, impulsionando os rendimentos dos Treasuries. Em tese, a redução nas tensões comerciais poderia estimular o apetite por risco e aliviar os juros, mas parte do mercado leu a trégua como um indicativo de aceleração da atividade econômica, o que afasta o risco de recessão e reacende projeções de inflação e juros mais altos.
“O otimismo que marca o início desta segunda-feira está diretamente ligado ao acordo tarifário. Essa trégua tende a aliviar pressões sobre cadeias produtivas globais e favorecer ativos de risco como ações brasileiras”, analisa Theo Braga, CEO da SME New Economy. Segundo ele, a valorização do Ibovespa reflete essa leitura, embora o dólar em alta indique que o investidor ainda monitora com cautela o cenário doméstico.
O CEO da Holding Grupo X, Jorge Kotz, reforça que a trégua comercial chega em um momento estratégico para o Brasil: “O fluxo para mercados emergentes reacende com a distensão EUA-China, e o Brasil pode se beneficiar. Mas o investidor estrangeiro segue seletivo. Entra na Bolsa, mas ainda se protege na moeda, à espera de maior clareza sobre o ambiente político e econômico local.”
A cautela se justifica. No Brasil, a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) na terça-feira deve ganhar peso adicional. O IPCA de abril desacelerou, mas veio acima das expectativas do mercado e segue pressionado por alimentos. O Focus desta segunda indica Selic em 14,75% até o fim de 2025, mas, se os dados de comércio e serviços surpreenderem para cima, os economistas apontam a chance de ajustes adicionais, possivelmente para até 15%.
Hoje, o destaque corporativo fica com o balanço da Petrobras, que será divulgado após o fechamento. Sinais sobre dividendos e política de preços podem influenciar papéis e mexer com o humor do investidor estrangeiro.