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O que explica o crescimento milagroso de Taiwan, ilha que é pilar da economia global

Estímulos do governo federal e liberdade econômica foram fundamentais para fazer de Taiwan a potência atual

Por Ernesto Neves, de Taipé
Atualizado em 12 mar 2025, 12h03 - Publicado em 3 mar 2025, 10h01

Com uma área de equivalente ao estado de Alagoas, Taiwan é uma ilha pequena, com poucos recursos naturais e uma população de apenas 23 milhões, mas desempenha um papel de liderança na indústria internacional de alta tecnologia.

Classificada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) como a 21ª maior economia do mundo, essa nação insular localizada a 180 quilômetros da China se desenvolveu com uma velocidade impressionante, deixando para trás um ado agrícola para se tornar potência digital.

Para entender como isso foi possível é preciso mergulhar na complexa história recente de Taiwan.

O pontapé inicial do milagre taiwanês se deu no início do século XX, um período período controverso, quando o país se tornou colônia do Japão (1895-1945).

Os colonizadores aceleraram as exportações de chá, arroz e cana-de-açúcar, aumentando o dinamismo da economia. Em seguida, implantaram a produção de fertilizantes e têxteis, aumentando ainda mais a pauta de exportações.

Em 1899, os japoneses estabeleceram outro pilar fundamental –  a criação de um Banco Central forte. Ao emitir moeda, a instituição estabeleceu uma unidade padrão de câmbio, facilitando as transações financeiras.

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Indústria automobilística em Taipé nos anos 1970
Indústria automobilística em Taipé nos anos 1970: depois da Segunda Guerra, país se voltou para as exportações (Reprodução/Reprodução)

O desenvolvimento observado no período japonês, porém, acontecia de forma desigual. Mesmo que o país assistisse à crescente entrada de divisas, boa parte dos lucros acabava remetida para o Japão. Assim, a renda média das famílias permanecia baixa.

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Mas com a derrota do Japão na Segunda Guerra, em 1945, os colonizadores acabaram expulsos da ilha.

Nesse momento, outro governo, dessa vez da República da China, assumiu a istração taiwanesa.

O governo central da se mudou do continente para Taiwan em 1949, fugindo da revolução comunista. E nos anos seguintes, se concentrou na reconstrução da infraestrutura danificada durante guerra, voltando-se em seguindo para o progresso econômico.

Devido ao seu amplo envolvimento na indústria e no comércio, o estado continuou a definir a direção da economia.

No entanto, havia grandes diferenças entre a gestão econômica da República da China e a istração japonesa em Taiwan.

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Antes da Segunda Guerra Mundial, o Japão controlava a economia taiwanesa por meio da propriedade direta e, indiretamente, através de empresas estatais.

Sob o novo governo, porém, houve um incentivo crescente à participação da iniciativa privada.

O primeiro plano de desenvolvimento econômico buscou transformar a economia agrícola de Taiwan em uma baseada na manufatura — uma estratégia visionária que impulsionou a modernização da ilha.

Essa transição foi bem-sucedida, em grande parte, porque os planejadores econômicos decidiram focar na indústria têxtil e de vestuário, um setor historicamente crucial no desenvolvimento de países como Reino Unido, Estados Unidos e Japão.

Entre os anos 1960 e 1970, Taiwan realizou um novo salto estratégico com o nascimento da indústria eletrônica.

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Naquele período, o setor era dominado por pequenas empresas que copiavam ou licenciavam tecnologias de corporações multinacionais.

Devido à percepção de que os produtos eletrônicos fabricados localmente eram de qualidade inferior, as empresas taiwanesas direcionaram seus esforços para mercados emergentes no Sudeste Asiático, Oriente Médio e América Latina.

As receitas geradas por essas exportações permitiram que as empresas atingissem investissem em equipamentos de produção mais modernos.

As melhorias na qualidade e no know-how de fabricação no setor de eletrônicos pavimentaram o caminho para a ascensão da indústria de semicondutores, que se tornaria o próximo grande motor do crescimento econômico.

As origens dessa indústria remontam a 1964, quando um laboratório de semicondutores foi fundado na National Chiao Tung University, em Hsinchu, no norte de Taiwan.

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Esse laboratório desempenhou um papel fundamental na formação de engenheiros que mais tarde se tornariam a espinha dorsal da indústria de semicondutores do país.

Nos primeiros anos, o emergente setor de fabricação de semicondutores recebeu pouca ajuda externa, pois as corporações multinacionais hesitavam em investir em instalações de produção em Taiwan.

Um dos principais fatores dessa relutância era o alto investimento exigido para a criação dessas linhas de produção, aliado à incerteza sobre a capacidade de manter padrões consistentes de controle de qualidade.

Nos anos 1980, o estado taiwanês, com a ajuda de especialistas dos Estados Unidos, ou a investir cifras vultosas para acelerar a produção de semicondutores.

E fundou aquela que viria a ser a mais importante empresa do setor de chips nos dias atuais, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC).

A TSMC fornece componentes para todas as grandes empresas de tecnologia, incluindo Apple, Amazon e Microsoft.

E produz 90% dos chips mais avançados do mundo, incluindo aqueles essenciais para o desenvolvimento de inteligência artificial, que exigem alto nível de sofisticação.

Em outras palavras, praticamente todo celular, a maioria dos computadores e qualquer banco de dados do mundo dependem dos chips que saem das fábricas da TSMC. E que só ela é capaz de fabricar.

Com um quadro de mais de 70 000 funcionários, a TSMC domina o setor com nove plantas industriais em Taiwan. A empresa também erguendo uma nova unidade no Japão, nos Estados Unidos e na Alemanha.

Sede da Samsung, a Coréia do Sul ocupa a segunda posição no ranking global de manufatura de chips.

No entanto, Taiwan mantém a dianteira com larga vantagem, pois seus semicondutores são mais eficientes, menores e mais rápidos do que os fabricados pelos sul-coreanos.

Planta de produção da TSMC em Taiwan
Planta de produção da TSMC em Taiwan (Divulgação/Divulgação)

O repórter viajou a Taipé a convite do Conselho de Desenvolvimento do Comércio Exterior de Taiwan (TAITRA).

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