O último ato de Francisco: funeral modesto, sepultura singular e conclave rápido 4m4v6e
Francisco será enterrado na Basílica de Santa Maria Maggiore, não no Vaticano; mudança no regulamento vai acelerar o funeral e o encontro dos cardeais o6z

A morte de um papa e a eleição de seu sucessor seguem um protocolo rigoroso, repleto de rituais históricos.
Com o falecimento de Francisco, três mudanças significativas se destacam nesse processo: o funeral será mais simples, o local de sepultamento será fora do Vaticano e o conclave para eleger o novo pontífice poderá começar antes do prazo tradicional.
A primeira é a simplificação do protocolo funerário, promovida pelo próprio pontífice em vida.
A segunda diz respeito ao local do sepultamento: Francisco não será enterrado nas Grutas do Vaticano, como a maioria de seus antecessores, mas na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma — templo ao qual era particularmente devoto.
A terceira novidade envolve o conclave: graças a uma norma introduzida por Bento XVI em 2013, o processo para eleger o novo papa poderá ser antecipado, sem a necessidade de esperar os 15 dias tradicionais, desde que todos os cardeais estejam presentes em Roma. A decisão sobre a data será tomada nos próximos dias.
Ao todo, 135 cardeais participarão da votação, naquele que deve ser o conclave mais internacional da história. E, naturalmente, o momento mais aguardado será o anúncio do nome do novo pontífice.
Funeral e sepultamento: o adeus reformado de Francisco
Francisco já havia deixado claro que desejava um funeral diferente do de seus antecessores. Em 2023, ao conduzir as exéquias de Bento XVI — com o corpo exposto sobre um catafalco — declarou que aquele seria o último a seguir esse modelo.
“Na minha opinião, o ritual era elaborado demais. Os papas devem ser sepultados como qualquer outro filho ou filha da Igreja. Com dignidade, mas não em travesseiros”, afirmou, em entrevista.
Essa visão se concretizou em abril de 2024, com a reforma oficial do protocolo funerário, regulamentada pelo Ordo Exsequiarum Romani Pontificis. O objetivo, segundo o Escritório de Celebrações Litúrgicas, era garantir uma cerimônia que representasse “um pastor e discípulo de Cristo, e não alguém poderoso neste mundo”.
Entre as principais mudanças está a alteração do local de confirmação da morte, que a do quarto papal para a capela. O corpo é imediatamente colocado em um caixão de madeira com revestimento de zinco e levado diretamente para a basílica, sem a tradicional parada no Palácio Apostólico. A partir de quarta-feira, 23 de abril, ele será exposto aos fiéis com o caixão aberto por três dias, antes do funeral.
A grande novidade, porém, está no destino final do corpo.
Francisco escolheu ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maggiore, próxima à estação Termini, em Roma — e não nas Grutas do Vaticano, onde repousam 23 papas. A escolha tem forte carga simbólica: o templo abriga a imagem da Salus Populi Romani, a Virgem dos Romanos, diante da qual o papa costumava rezar após sua eleição e antes de cada viagem apostólica.
Além disso, serão abandonados os três caixões tradicionais — de cipreste, chumbo e carvalho — usados em sepultamentos papais recentes. Embora incomum, a decisão de não ser enterrado no Vaticano tem precedentes: pontífices como Pio IX e Leão XIII também optaram por sepulturas fora da Santa Sé, respectivamente em São Lourenço Fora dos Muros e São João de Latrão.
Assento vago e nove dias de luto: o que acontece após a morte de um papa
Com a morte do papa, inicia-se um período de nove dias de luto oficial, conhecido como Novendiali. Durante esse intervalo, e enquanto a Sé Apostólica permanece vacante, a istração cotidiana do Vaticano fica a cargo do camerlengo — atualmente o cardeal americano Kevin Joseph Farrell, nomeado para o cargo em 2019.
Cabe ao camerlengo certificar oficialmente a morte do pontífice, destruir o anel do pescador (símbolo do poder papal) e lacrar os aposentos do papa falecido. Em seguida, ele comunica o falecimento ao Cardeal Vigário de Roma. Durante a vacância, o camerlengo atua com o auxílio de três cardeais sorteados, cuja função é renovada a cada três dias. O funeral deve ocorrer entre o quarto e o sexto dia após a morte.
Outra figura central nesse processo é o decano do Colégio Cardinalício, responsável por convocar os cardeais ao conclave e coordenar as reuniões preparatórias.
Desde 2020, o decano é o cardeal italiano Giovanni Battista Re. No entanto, por ter mais de 80 anos — idade máxima para participar da eleição papal —, ele não poderá presidir o conclave. Essa função caberá ao cardeal mais idoso entre os eleitores da ordem dos bispos: Pietro Parolin, secretário de Estado e braço direito de Francisco durante o pontificado.
Antes da escolha do novo papa, os cardeais se reúnem em assembleias chamadas congregações gerais. Esses encontros servem para oração, escuta mútua e troca de impressões sobre os rumos da Igreja.
É também nesse momento que se delineiam os principais desafios a serem enfrentados e começam a despontar os primeiros nomes com força entre os eleitores. As falas mais influentes moldam o debate, e os primeiros consensos e votos começam a se formar, abrindo caminho para a eleição do novo pontífice.